A Ilha da Madeira e a Saudade em A Corte do Norte

Resumo

A Corte do Norte, de Agustina Bessa-Luís, inicia-se com a descrição do sentimento de saudade associado à Ilha da Madeira. Este tópico atravessará toda a trama romanesca, sendo a obsessão de diversas personagens pelo enigma de Rosalina – personagem misteriosa e ausente – paradigma disso. De tal modo esse singular sentimento é determinante que é ainda com ele que o romance termina. Tentaremos, pois, propor uma leitura segundo a qual a Madeira aparece neste texto como uma espécie de emblema do desejo nunca concretizado que é a saudade. As paisagens sublimes da ilha, isto é, escarpadas e extremas, são entendidas como extensões visuais do carácter abismado (arrebatador e terrífico) da saudade. Porque a associação das paisagens a esse peculiar sentimento nostálgico é amplamente explorada na adaptação de João Botelho, também evocaremos o filme na nossa reflexão. Finalmente, tentaremos mostrar que o que verdadeiramente está em jogo na ligação estabelecida entre ilha e saudade é uma reflexão sobre a própria criação artística.

Palavra-chave

A Corte do Norte; Agustina Bessa-Luís; Intermedialidade; Sublime; Belo, Literatura, Cinema.