Fotografia e Cinema: Representações da Madeira entre Jornalismo, Etnografia e Propaganda Turística nas Primeiras Décadas do Século XX. O Caso da Madeira Film e do seu Homem da Câmara

Autores

  • Ana Salgueiro

Resumo

Tomando a representação visual da Madeira como questão de fundo e centrando a nossa atenção na análise do cinema produzido no Funchal pela Madeira Film na década de 1920, sob a direção de câmara de Manuel Luiz Vieira, começaremos por refletir sobre os desafios metodológicos colocados à investigação sobre os primeiros filmes da História do Cinema e sobre a cinematografia produzida em espaços periféricos como a Madeira. Acompanhando trabalhos recentes desenvolvidos por vários autores na área dos Estudos de Cinema Português, defenderemos: (1) a necessidade de um regresso ao trabalho em arquivo; (2) a não restrição do corpus de análise aos filmes (muitos deles entretanto desaparecidos), alargando-o a outros discursos visuais e escritos onde merecem especial destaque as publicações periódicas coevas; e (3) a adoção de abordagens comparatistas, que permitam o conhecimento fundamentado do sistema cultural madeirense e do papel que o cinema aí assumiu, sem, contudo, deixar de relacionar os fenómenos cinematográficos (e não só) insulares com outros situáveis em contextos nacionais e internacionais mais amplos, em que, afinal, também aqueles estiveram implicados.
Por outro lado, enquadrando a produção cinematográfica da Madeira Film quer na obra mais vasta do seu homem da câmara, quer numa tradição visual de representação da ilha que ganharia especial fulgor com a invenção da fotografia no século XIX, quer na tendência nacionalista então dominante no sistema cinematográfico português, quer ainda nas dinâmicas de afirmação regionalista experienciadas na ilha desde a década de 1910, procuraremos demonstrar como o repertório da Madeira Film, oscilando entre o discurso jornalístico, a busca do retrato etnográfico e o investimento na propaganda da ilha, ensaiando a invenção de um cinema tipicamente madeirense, não só contribuiu para a imaginação e para a projeção da Madeira como comunidade dotada de uma identidade própria (em claro alinhamento com as propostas regionalistas do grupo do Cenáculo, de que fez parte Francisco Bento de Gouveia, o proprietário da produtora), como também deu continuidade ao processo de imaginação da Madeira como ilha turística, intensificado com a invenção da fotografia e a vulgarização do bilhete-postal ilustrado.


Palavras-chave

Fotografia; Cinema; Madeira Film; Regionalismo/Nacionalismo; Turismo; Construção Identitária.

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Publicado

2021-07-01

Edição

Secção

Estudos / Ensaios