“Nova Madeira”? Notas e Reflexões para o Estudo da História da Colonização Madeirense no Planalto da Huíla (Angola), 1884-1975
Resumo
Este artigo analisa a história da colonização madeirense no Planalto da Huíla, no Sul de Angola, no período compreendido entre 1884 e 1975. Mais concretamente, procura reflectir sobre a evolução histórica do núcleo colonial branco criado pelos madeirenses nas Terras Altas da Huíla, em especial na cidade do Lubango, tendo em consideração aspectos económicos, sociais e políticos, consubstanciados na formação de uma comunidade fortemente enraizada em solo africano, cuja identidade, interesses e horizontes se situavam plenamente em África. A este respeito, os colonos madeirenses não só revelaram uma singular capacidade de adaptação à realidade africana, como também a moldaram, tendo transplantado para o planalto certos aspectos da sua vivência material e espiritual original na Ilha da Madeira, sendo disso exemplos a construção de levadas, a realização de uma agricultura baseada na policultura de regadio ou a devoção a Nossa Senhora do Monte, cujo complexo por eles erigido no Lubango constitui, ainda hoje, uma das principais referências do catolicismo no Sul de Angola. Por outro lado, a boa adaptação à realidade africana e o isolamento de que os colonos foram vítimas
durante as primeiras quatro décadas do povoamento criaram as condições para a africanização dessa comunidade branca colonial, caso único na história da colonização portuguesa em Angola. Designados de chicoronhos, tanto por negros, como por brancos, os colonos madeirenses e seus descendentes eram tidos, já nos finais da década de 1920, como constituintes de uma novel “tribo branca” da Huíla. Esta africanização resultou, entre outras coisas, na assunção de uma postura nacionalista, favorável à independência de Angola, no quadro maior do nacionalismo euro-africano e que teve o seu principal expoente na fundação da Frente de Unidade Angolana. Porém, o atabalhoado processo de descolonização e a violência espoletada pela guerra civil angolana conduziu ao êxodo da maioria da população branca do planalto huílano em 1975, colocando um ponto final no processo de colonização das Terras Altas da Huíla.
Palavras-chave:
Angola; Huíla; Colonização; Descolonização; Nacionalismo Euro-Africano; Madeira.
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