Da Estranheza (do Fantástico) no Cinema de Manuel Luiz Vieira Produzido na Madeira na Década de 1920

Autores

  • Ana Salgueiro

Resumo

Considerado um dos primeiros filmes fantásticos portugueses, O Fauno das Montanhas, realizado por Manuel Luiz Vieira entre 1926 e 1927, suscitou, desde a sua estreia, algumas perplexidades. Dando continuidade à experimentação do cinema ficcional que o cineasta madeirense encetara em 1925-1926 com o filme A Calúnia, sob a chancela da sua nova produtora Empreza Cinegráfica Atlântida (ECA), em maio de 1927 a nova fita de Manuel Luiz Vieira surpreendia os cinéfilos insulares com a estranheza (então mal compreendida) de um novo tipo de cinema de ficção. Surpresa ainda hoje manifestada pelos poucos autores que se têm debruçado sobre O Fauno das Montanhas: o que terá levado um cineasta insular a realizar e a produzir, na Madeira dos anos 1920, um filme como este?
Centrando a nossa análise quer na imprensa periódica coeva (madeirense e nacional), quer numa cópia da fita existente no Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM), procurámos os fatores que terão motivado Vieira à experimentação deste novo cinema, bem distinto daquele que antes realizara ao serviço da regionalista Madeira Film. Embora não abandonando os filmes de factos que o público local e a diáspora madeirense continuavam a aplaudir, buscando no cinema a representação supostamente transparente das belezas da ilha e das novidades da vida insular quotidiana, Manuel Luiz Vieira escreve, realiza e produz O Fauno das Montanhas já sob a influência da vanguarda cinematográfica francesa com que contactava pelo menos desde 1922. Os desafios eram agora outros: pensar e fazer cinema como criação subjetiva e artística e já não apenas como registo mimético e jornalístico do mundo; questionar o cinema mimético e regionalista até então produzido na Madeira, assim como a imagem idílica e tranquilizadora que nessas fitas se construía da ilha. A opção pelo efeito fantástico permitia, assim, conceber uma nova e perturbadora imagem da Madeira, trazendo à superfície realidades muitas vezes ignoradas pela própria realidade e, assim, problematizando o próprio conceito de real.

 

Palavras-chave: Cinema Mudo; Década de 1920; Manuel Luiz Vieira; Fantástico; Madeira; Empreza Cinegráfica Atlântida; O Fauno das Montanhas.

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Publicado

2022-05-02

Edição

Secção

Estudos / Ensaios