O Anjo da História em Cabral do Nascimento. Parte I: Dualidades Históricas e o Tempo da Fundação, da Direção e da Demissão do Arquivo Distrital do Funchal

Autores

  • Ana Salgueiro

Resumo

Em carta datada de 13-10-1962 dirigida a João Gaspar Simões, João Cabral do Nascimento resume o seu percurso curricular, destacando, entre outros dados, o facto de ter aceitado «o cargo de director do Arquivo Distrital do Funchal, cuja criação [ele] propusera e [...] instal[ara] de alto a baixo» e de, «enquanto arquivista», se ter dedicado «malgré moi, a trabalhos históricos», ter editado «uma revista da especialidade» e ter sido «nomeado académico correspondente da Academia Portuguesa de História». Se destas palavras não restam dúvidas sobre a inequívoca identificação de Cabral do Nascimento como arquivista (de facto e de iure), o mesmo não se pode concluir da sua identificação com o papel de historiador. Desde logo, pelo recurso ao galicismo malgré moi, quando se reporta aos numerosos textos acerca de figuras e fenómenos culturais com relevo para a História da Madeira que deu à estampa, de forma dispersa, em várias publicações periódicas locais e em livro, sobretudo durante o período que acompanhou a fundação do Arquivo Distrital do Funchal (ADF) e enquanto responsável editorial pela revista Arquivo Histórico da Madeira (AHM).
Tomando como objeto de análise o fundo do ADF à guarda do atual Arquivo e Biblioteca da Madeira, assim como os nove volumes da AHM publicados sob sua direção entre 1931 e 1951, colocando alguma desta documentação em articulação com textos literários e não literários, onde a questão do tempo ou temáticas históricas madeirenses são abordadas por Cabral do Nascimento, procuraremos indagar sobre o sentido das reticências que se insinuam nas suas palavras, quando se refere ao seu papel como historiador. Tratar-se-ia de uma reserva sobre a qualidade do seu trabalho na área da Historiografia? Ou, um pouco na senda do pensamento de Walter Benjamin sobre a Filosofia da História (autor coevo de Cabral do Nascimento e, como ele, de ascendência judaica), o galicismo malgré moi antes sinaliza as reservas epistemológicas de um sujeito fascinado pelo passado, mas consciente da própria historicidade do fazer historiográfico e das fragilidades e limitações que a História apresenta(va), enquanto disciplina e discurso científico que quer resgatar o passado para o presente?


Palavras-chave

Teoria da História; Cabral do Nascimento; Anjo da História; Arquivo; Ruínas; História da Madeira; Arquivo Distrital do Funchal.

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Publicado

2024-03-26

Edição

Secção

Estudos / Ensaios